terça-feira, dezembro 07, 2010

Jornalismo & Política

Na próxima quinta-feira sentamos os jornalistas e os políticos à mesma mesa e vamos procurar analisar o relacionamento entre estes dois actores sociais, cujo contributo é inestimável para a consolidação das instituições democráticas. Pode ser que para os mais desavisados a reflexão que ora se propõe se mostra prematura, uma vez que não existe, aparentemente, nada de anormal nesta relação. Esclarece-se, desde logo, que não se procura fazer uma abordagem rotineira partindo dos dois lados da barricada em que cada um destes campos defende as suas posições de trincheira.

É sabido que o mundo dos media e o meio politico são “amantes malditos”, condenados a andar lado a lado, a influenciarem-se mutuamente, mas sempre desconfiando um do outro e nalguns casos detestando-se. O Estado deve proteger a imprensa, mas pode sentir-se tentado a proteger-se a si próprio contra ela, limitando-lhe a liberdade de acção. A imprensa, por seu turno, dispõe de um grande poder de influência sobre a vida social, pelos efeitos que repercute, às vezes até pelo seu silêncio

De uma coisa todos estão de acordo: a imprensa não pode servir de base para a acção politica, porque ambas são eternas irmãs inimigas, e isso pelas razões que se expõe.

O jornalismo na sua origem é informativo. Dá notícias, narra factos. O seu objectivo é o rigor. Idealmente conta histórias do ponto de vista de ninguém. A sua limitação porém é que vive num ciclo de 24 horas. Esgota-se na procura estonteante do agora. Vive para o acontecimento e do acontecimento. As causas e os temas sociais são-lhe estranhos. Só os acontecimentos súbitos o servem. As situações crónicas, por graves que sejam, não o podem interessar. Num relato ela destaca sempre o novo, mesmo que com isso falseie o contexto, ou sacrifique o importante. A sua âncora são os nomes, as caras. O seu motor, a competição.

Mas o pior é quando o jornalismo informativo, que já sofre destas limitações que o seu ciclo de curto prazo lhe impõe, transforma-se num jornalismo interpretativo, considerado, hoje, um grau acima na escala de respeitabilidade da profissão.

Para esses jornalistas os factos são apenas pretexto para especular sobre os jogos de poder e os interesses inconfessáveis que fontes secretas lhes revelam. O jornalismo interpretativo cultiva o cepticismo, prefere expor, por sistema, as meleitas do poder, em vez de dar notícias, prefere gerar controvérsias.

Esta moda em que o jornalista é a estrela e o político um objecto pode envenenar a fonte e ser responsável pela má imagem da política junto do cidadão. Ao não distinguir nos seus escritos e nas suas manchetes o real abuso do poder do mero acidente de percurso, esse jornalismo enfraquece o elo de confiança entre políticos e os cidadãos, que é afinal a condição essencial para a democracia.

Thomas Petterson, director do Shorenstein Center, da Universidade de Havard, acha que a relação entre a política e a informação é má, porque a informação distorce a política ao concentrar-se na dimensão “luta pelo poder”, ignorando a dimensão “governação”.

Diz ele que há pouca correspondência entre informação sobre o mundo que normalmente a imprensa nos apresenta e o mundo real em que vivem as pessoas. “A informação deixou de querer ser um espelho reflector da sociedade, para ser um espelho que a distorce e lhe agiganta as facetas”.

Entre nós, não há dúvidas de que a imprensa vai ainda atrelada aos interesses e a agenda dos políticos, embora haja já sinais de um tipo de jornalismo muito em voga nos Estados Unidos, com ramificações na Europa. Um jornalismo politico que olha para os políticos com desconfiança, cepticismo e cinismo, obliterando a responsabilidade social que deve enformar a missão da imprensa.

O debate faz-se no auditório da RTC, a partir das 17:30.

6 comentários:

  1. Nao pode haver debate e troca de ideias entre jornalsitas e politicos. O politico é o representante do povo que o elege e que para tal tem de prestar contas. O jornalista questiona o politico, colocando as perguntas que o povo se coloca.

    Quem sao os moderadores? Silvino Evora é um recém doutorado que estudou jornalismo, mas ainda nao tem experiência para falar de jornalismo profissao que estudou mas ainda nao exerceu. Estudar e exercer sao coisas diferentes. Júlio Correia, é sobretudo politico e nao sociologo de comunicaçao. Idem para Lourenço Lopes.Daniel Medina é jornalista e comunicólogo, mas está em todas, alias como Julio Correia e Lourenço.

    Ha que diversificar ha que ouvir outras pessoas, tanto mais que ja se conhecem os discursos dessas pessoas aqui citadas. Nao dirao nada de original e de novo. Alias quem faz a opiniao nesta terra: um grupinho de 10 pessoas, sempre as mesmas e que nao falariam como jornalistas e como politicos em nenhum outro forum a sério de um país a sério!

    Jornalismo e Politica, estao resumidos numa unica palavra: WIKILEAKS! O jornalista denuncia e poe o politico a tremer; o jornalista pode tomar um café com o politico mas para o chamar à pedra!

    Underdôglas

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  2. Aqui temos um exemplo de como nao deve haver palmadinhas e beijos na boca entre o jornalsita e o politico:

    http://www.telanon.info/politica/2010/12/07/5822/governo-de-patrice-trovoada-trava-programa-televisivo-que-promove-debate-de-ideias-liberdade-de-opiniao-e-a-democracia-no-pais/#comment-17029

    Carlos Veiga impedido de falar na televisao de STomé por ordens do primeiro ministro ST Patrice que depois despede a jornalista que ia fazer a entrevista.

    Isto é que é debate entre o poder e o jornalista!

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  3. Estou de volta porque estamos a viver uma autêntica guerra mundial de informaçao e em CVerde nao estamos preparados para enfrenta-la.

    E' que lembrei-me de um artigo de Opiniao do doutor Silvino que ele escreveu na Semana onde dizia que a fonte é sacrossanta e que o canal, o meio de informaçao tem menos importância. Alias ele dizia que é a fonte que tem as chaves de tudo nesta matéria no futuro.

    Ora bem isto é falso e dou um exemplo actual que se passa com o Wikileaks. Quem deu os documentos ao Wikileaks? Quem foi a fonte do Wikileaks? Se essa fonte é primordial, aquela que deciddirá o futuro do jornalismo segundo o Doutor Silvino, como é que se fala so em Wikileaks? A maioria das pessoas, se calhar nem mesmo o Silvino sabe quem foi a fonte do Wikileaks.

    Quem cometeu o crime? Foi a fonte ou foi Wikileaks que se limitou apenas a divulgar os documentos assim como varios outros jornais no inicio e agora todo o mundo? O leitor médio quando lê a Semana, citando o exemplo de CV deixa de saber sequer qual desses jornais deu a noticia que a Semana retomou.

    A fonte sem um veiculo, sem um meio nao é nada!....

    Como disse Silvino é doutorado em jornalismo, mas nunca praticou esta profissao e a pratica é completamente diferente da teoria por uma série de razoes. Ele so pode falar daquilo que leu nos manuais, o que qualquer pessoa minimamùente formada intelectualmente também pode fazer; da pratica ele nao pode falar porque nao sabe como funciona umm jornalista numa redacçao de radio, televisao ou jornal.

    Underdôglas

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  4. Para que da proxima vez possam alargar o debate a outras pessoas e nao sempre as mesmas que nao dizem nada de original porque nao sabem, aqui vai um link para ser lido no original nouvelobs:

    ." Top French journalists are often products of the same elite schools as many French government leaders. These journalists do not necessarily regard their primary role as to check the power of government. Rather, many see themselves more as intellectuals, preferring to analyze events and influence readers more than to report events. ¶18. The private sector media in France - print and broadcast - continues to be dominated by a small number of conglomerates, and all French media are more regulated and subjected to political and commercial pressures than are their American counterparts. Ceci n'est pas une note d'Acrimed, juste deux petits chapitres dans un cable de l'ambassade américaine à Paris.


    De manière assez chirurgicale, l'ambassade remarque la connivence de l'élite des journalistes, la paresse par rapport au travail d'enquête et la soumission aux impératifs politiques."

    Isto tem a ver com as relaçoes entre jornalismo e poder e com o que eu ja havia dito em anterior post!

    Underdôglas

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  5. Esta aula sobre a liberdade expressao que estive a dar a uma tuga atrevida no Semana serve também para aqui:


    Em primeiro lugar diz-se deixar a poeira assentar e nao acentuar! Agora conjugue o verbo no conjuntivo e ha-de chegar la. Para uma portuguesa que ainda ha dias criticava o português de caboverdianos..

    ..Bem, ha outras confusoes na sua cabeça. Quem faz confusao entre os verbos assentar e acentuar, nao pode saber falar da filosofia da liberdade de expressao.

    Va ler a questao do segredo e publicaçao nos discursos de George Washington e Jefferson, e os Federal PAPERS, sobre o debate daquilo que seria a constituiçao dos Estados Unidos. Nesse material recomenda-se precisamente aos país que estava a nascer para nao adoptar a diplomacia secreta da Europa e governar divulgando tudo, sem segredos para o povo americano.

    Outro disparate é confundir jornalismo com terrorismo cibernético. Mas você é mesmo séria quando chama a divulgaçao desses telegramas de jornalismo terrorista?! Enfim, para a sua informaçao sao grandes jornais que estao a divulgar os documentos facultados pelo Wikileaks, que também os divulga no seu site.

    Mas sao os jornais que publicitaram tudo e que fizeram com que você tivesse lido esses telegramas; Você se calhar nunca visitou Wikileaks, porque quem nao sabe fazer a diferença entre assentar e acentuar nao pode saber ler inglês.

    Enfim, agora sim, o Herald Tribune nao foi um desses jornais escolhidos por Assange! E' claro que o Herald como o Publico e Diario de NOTICIAS e tantos outros midias, acabaram por repercutir os telegramas. Mas inicialmente, Wikileaks disponibilizou esses telegramas ao primeiro desses jornais americanos que disse New York Times e ainda ao El Pais, LE MONDE, Spiegel e The Guardian. Você quer dizer entao que estes jornais de referência e de esquerda fazem jornalismo terrorista?!

    Bem, la onde estou de acordo consigo, é que o Assange devia também denunciar documentos secretos da Russia, China.... mas para quê se a gente sabe que esses paises nao sao democracias?O que Assange quis demonstrar é que a democracia americana nao é assim tao "civilizada" como quer mostrar.

    Quanto à segurança, compete aos Estados unidos garantir a sua segurança e nao a jornais. Nisso até Cavaco Silva é mais inteligente do que você pois ele disse nao perceber como é que a segurança americana tem assim tanta falha.

    Underdôglas

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  6. Porque é que a Radio publica de CV continua a ser colonizada por mensagens brasileiras em brasileiro? O chefe de programas da Radio nacional caboverdiana é um agente do Brasil, que recebeu a missao de condicionar as mentes caboverdianas?!

    Aposto que o chefe de programas que estudou no Brasil nunca teve contactos com o grande africanista Carlos Moore, negro cubano de nascença mas naccionalizado brasileiro e que é muito critico em relaçao aos poderes no Brasil, condenando nomeamente o racismo brasileiro. Ver o artigo da Semana e as denuncias do embaixador de CV do racismo no Brasil.

    Porque a nossa pseudo-elite nao conhece Carlos Moore, fica aqui um extracto do seu pensamento para depois irem ver a sua extensa obra nomeadamente sobre o colonialismo de Lula da Africa/

    a existência no Brasil, fruto de um passado fartamente conhecido, de um desprezo profundo para com o continente africano, seus descendentes e sua história. Ou seja, de modo geral, as elites dominantes do Brasil, profundamente eurocêntricas e europeizadas, admiradoras dos métodos norte-americanos e das normas e padrões euro-ocidentais, não consideram a África como parceiro a se respeitar, mas como o “Continente Negro” provedor de escravos, digno de ser explorado e humilhado. Essas elites têm em suas mãos praticamente todos os meios de comunicação e, assim, podem forjar – e forjam – todas as imagens distorcidas sobre o continente africano. Por sua vez, esse monopólio sobre a mídia poderá permitir que a opinião pública e a própria sociedade civil brasileira se mostrem omissas e até coniventes com a exploração desse continente. É aí onde reside o perigo: que, pouco a pouco, a opinião brasileira seja manipulada num sentido contrário a uma empatia e um sentimento de solidariedade com o continente ancestral da maioria da população do país."

    Efectivamente, Lula nunca teve uma verdadeira politica de integraçao dos negros do Brasil; e esse seu namoro da Africa nao passa de banha a cobra; o que o Brasil quer é a riqueza da Africa.

    A radio de CV nao tem nada de estar a passar mensagens desse gestor brasileiro todos os domingos mensagens essas que até" nem estao adaptadas a CVerde. Sao mensagens feitas para ouvintes no Brasil.

    Este neo-colonialismo brasileiro balofo tem de acanar nesta terra. No outro dia via na Televisao o antropologo dos Anjos a falar brasileiro, enquanto o psiquiatra Manuel Faustinno que viveu como ele também no Brasil mais de 15 anos, falava o nossso português. Porque é que um imita o brasileiro e outro nao?!

    As pessoas que imitam como papagaios têm espirito fraco e perturbado. Nun a eu vi um brasileiro a imitar um caboverdiano, porque é que temos que imitar o brasileiro a falar. Quando é que este complexo de inferioridade vai acabar nesta terra?!!!

    Quando é que a nossa gente começa a informar-se como deve ser junto de brasileiros honestos e competentes como Carlos Moore?!!!


    Underdôglas

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